sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Delírios de honestidade

Outro dia estava pensando como seria se o mundo se as pessoas fossem realmente honestas. Inclusive no mais prosaico cotidiano. Eu me imagino entrando por uma dessas churrascarias de luxo. Sento – me à mesa e peço um filé bem passado ao garçom. Ele me alerta:
– Não aconselho. O filé hoje está uma sola de sapato.
– Peço o quê?
– Peça licença e vá para outro lugar. Olhe bem o cardápio. Pelo preço de um bife, a senhorita compra mais de um quilo no açougue. Quer jogar dinheiro fora.
Vou para outro e escolho: salmão. O garçom:
– Se a senhorita quiser, eu trago. Mas salmão, salmão, não é. É surubim, alimentado de forma a ficar com a carne rosada. Ainda quer?
– Nesse caso fico com escargots
– Lesmas, quer dizer? Porque não vai catar no jardim?
Ou então entro numa butique de griff . Experimento um jeans, que está apertadinho na bunda. A vendedora aproxima – se:
– Ficou bom? Ah, não ficou bom, não, está apertado e não tenho um número maior.
– Acho que dá...ando fazendo regime.
Pois compre depois de obter algum resultado. Se bem que não sei, não...essa bunda parece coisa consolidada.
– Eu quero o jeans, Eu quero e pronto!
– Não vou deixar que cometa essa loucura. Aliás, falando francamente, o que o senhor viu nesses jeans, que nem cai bem nas suas adiposidades traseiras? Só pode ser a etiqueta.
Minha amiga, ainda acredita em griffes ?
Corro à casa de chocolates e peço um dietético. A mocinha do balcão:
– Confia nessa história de dietéticos? Ou só para calar sua consciência?
– E se eu quiser confiar, estou proibida?
– Pois sabia que engorda. Menos que o chocolate comum mais engorda. E a senhorita não me parece em condições de fazer concessões a doces. Não vou contribuir para o seu auto – engano, jamais poria esse chocolate nas mãos. Vá na feira e peça um jiló.
Resolvo comprar um carro. Passeio pela concessionária, escolho:
– Este vermelho, que tal?
– O motor funde mais dia, menos dia – Alerta o vendedor.
– Parece tão bonitinho...
– Você acha que essa lataria anda sozinha? Já alertei o dono da loja, este carro está péssimo. Fique com aquele.
– Mas é velho e horroroso!
– Pode ser, mas anda. Está decidido, leve aquele. E não discuta!
O embate com a honestidade absoluta também pode ser numa galeria de arte.
– Gostei daquele – aponto o quadro à marchande
– Está precisando de pano de chão?
– Não...é que..bem, posso não entender de arte, mas achei bonitinho.
– Sinceramente, a senhorita não entende mesmo. Isto aqui é um horror. Não vale a tinta que gastou. Está exposto porque o dono na galeria insistiu. Leve aquele, é valorização na certa.
– Aquele? É muito sombrio...eu queria uma coisa mais alegre e...
– Não insista. Sombrio ou não, vou embrulhar. Faça o cheque, é melhor para você.
E numa loja de móveis? Mostro as cadeiras que me interessaram. O decorador:
– É amiga de algum ortopedista?
– Está precisando de um? Posso indicar...
– Você é quem vai precisar. Essas cadeiras vão desmontar na terceira vez que alguém se sentar. Fratura na certa.
– Caras assim e desmontam? Eu devia chamar o Procon.
– Se quiser, eu chamo para a senhorita!
Pior seria alguma perua vaidosa querendo plástica. O cirurgião examina:
– Hum...hum...
– Meu nariz vai ficar bom, doutor?
– Se a senhora se contenta em trocar uma picareta por um parafuso, fica! Agora, se ambiciona uma melhora significativa, o melhor é morrer e reencarnar de novo. Pode ser que tenha mais sorte.
A paciente sai chorando. Eu, que vivo me irritando com vendedores, chego a uma conclusão: quero comprar o jeans que me oprime as adiposidades da bunda, o chocolate que não emagrece e o quadro colorido. Deliciar – me com pequenas fantasias. Feitas as contas, delírios de honestidade podem transformar –se em cruéis pesadelos. Os pequenos enganos abrem as comportas dos pequenos sonhos e adoçam o dia-a-dia, eu só deveria me dar conta de que certas mentiras; não fazem tão mal assim...

7 comentários:

Caio Lopes disse...

Não acredito muito que seria assim. Acredito apenas na parte das opiniões, mas forçar a fazer algo eu não creio que aconteceria.
Mas algumas mentiras se fazem necessárias.

Anônimo disse...

hahahahahahaha adorei hahahahaha
bjokasssssssssss
abraçokassssssss
adios
e
feliz natal !!!!

Fany Joker disse...

HAUIHAUAHUAHOAIHAU '
Rachei com essa, cara.

De fato, mesmo às vezes desonesto, o mundo tá lindo.
=)



;*

Rubem Rocha disse...

No meio comercial muitas mentiras se fazem nescessárias.
Gostei principalmente da conclusão.

Lucas Mendes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lucas Mendes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lucas Mendes disse...

Esta crônica é do autor Walcyr Carrasco. Ele sabe que você a postou como sendo sua? Meu amigo, já ouviu falar em PLÁGIO?