quinta-feira, 2 de abril de 2009

Adiantamento do necrológio

O meu quem faz sou eu, que não sou boba. Detesto a pressa dos jornalistas (apesar de tentar ser uma) que querem fechar a página de um jornal de qualquer maneira e acabam enchendo o espaço com lugares-comum do sentimentalismo. Nada de "coitadinha, era uma boa moça" ou " era tão nova", porque há muitos deixei de ser boa moça e e não sou tão nova assim. Quero que o meu necrológio seja sincero, porque de nada me valerá a vaidade depois que eu morrer - a não ser a vaidade de estar morta. Fui uma má filha, mas isso não quer dizer que meus pais fossem melhores filhos que eu - se fosse eu a mãe. Talvez eu não seja má esposa e acredito que seja porque nunca tive chance de ser, vontade não me falta. Nunca roubei, nunca menti: esses são os meus piores defeitos. Minha grande qualidade é ter todos os outros defeitos. Serei egoísta toda a vida, como todo mundo, mas nunca revelei nada à ninguém, como todo mundo. Passo a vida tentando (tentando) fazer os outros rirem de si mesmos: é possível que agora riem de mim. Sou valente e sou covarde, só tenho medo de mim mesma, o que prova a minha valentia. Nunca amei o próximo como a mim mesma, em compensação nunca ninguém me amou como eu mesma.Tive milhões de complexos e os venci, um por um, com excessão do complexo de morrer: esse morre comigo. Nunca dei nem tomei nada de ninguém, mas faço questão de deixar tudo o que tenho para os que tem menos do que eu. Nunca cobicei homem da próxima: só a da afastada. Jamais vou entender o que é "bem" e o "mal", embora a maioria das pessoas me achasse uma mulher de bem e este é o mal.
Defendo minha vida como posso, mas nunca arrisquei a vida para defendê-la. Nunca me preocupei com dinheiro, pois sempre tive pouco. Acredito mais nos inimigos que nos amigos, porque os amigos nem sempre se preocupam com a gente. Jamais tive um segredo, passei todos adiante. Conquistei poucos homens, alguns com os olhos, outros com os lábios e outros com muitas outras coisas. Tenho pavor de médico, porque eles sempre descobrem as doenças que a gente nem sabia que tinha há muito tempo. Me orgulho de estar vivendo dezenove em apenas nove: infelizmente ainda não me livrei dessa maldita insônia

2 comentários:

Rubem Rocha disse...

São quase tópicos. Não fica cansativo. Boas reflexoes!

Caio Lopes disse...

Vejo muito disso aí em mim, exceto o lado humano.
Mas, como foi dito, são ótimas reflexões.
Me deu idéias pra escrever.