quinta-feira, 18 de junho de 2009

Quando eu crescer...

Muito estranha é essa vida dos homens. Os coveiros passam a maior parte do tempo megulhados na terra, os mergulhadores no fundo do mar, os aviadores flutuando no espaço, os trapezistas dando cambalhotas no ar, os acessoristas trancados em suas cabines, todos eles subindo e descendo e vendo números. Todo homem tem uma profissão. Quando se é criança se quer uma coisa e quando cresce acaba virando outra. A gente se mata para viver ou vive para se matar?
Você aí, confesse no meu ouvido: está mesmo satisfeito com o seu trabalho?
Quem me garante que o dentista é feliz, empurrando a sua broca das oito da manhã às oito da noite, vendo desfilar um punhado de dentes, quase todos furados e estragados?
E o advogado, que tenta equacionar na justiça o drama dos seus clientes e fica sem tempo para cuidar seu próprio? E o médico, que receita remédios para tomar antes ou depois das refeições justamente para garantir as suas? E o bombeiro, que enfrenta o fogo real com uma água fictícia?
E a menina-moça que fica posando o seu sorriso de anú
ncio e não consegue esconder a tristeza dos olhos? E o ator, que fica ensaiando dia e noite um papel que no dia da estréia lhe é ditado pelo ponto? E o ponto, coitado, que passa dia e noite enfiado num buraco? E o crítico de arte, que é obrigado a ver coisas com a disposição prévia de não gostar? E o mecânico, que vive debaixo dos automóveis para ver se um dia consegue deitar por cima? E o violinista da orquesta, que chega em casa com a mão dolorida trazendo uma pequena porcentagem de aplausos? E o maestro, que vive de costas para o público e não tem a chance de ser fotografado de frente? E o gari, que sai a passeio todas as manhãs com uma vassoura debaixo do braço? E a babá, que para namorar precisa de um bebezinho como pretexto? E a telefonista, que chega em casa resmungano números? E o açougueiro, que só tem prazer mesmo na hora do banho? E os presidentes, que só abrem o jornal para ler denúncias e acusações sobre à sua pessoa? E o jornaleiro, que é obrigado a vender notícias em dua de chuva? E o vendedor de guarda-chuva, que passa o tempo torcendo pelo mau tempo? E o tabelião, que não consegue conversar espontaneamente desde mil novecentos e lá vai fumaça do nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo?
Por favor, amigos, não me digam de novo que a pior profissão é a de jornalista (ainda mais metida a engraçadinha): me deixem viver como eu penso que quero, embora quando criança nunca sonhasse que só seria jornalista e engraçadinha quando ficasse grande. Hoje, é exatamente o que eu quero ser quando crescer.

3 comentários:

Walter Andrade, disse...

HUIAHERIOAHEUAUOEHOAUHE a melhor profissão é a de escritor, ok. Que fica criando mil casos de vidas inexistente e que, na verdade são reflexos ilusórios de sonhos futuros do passado e ainda ganha (uma merda) por isso.

Rubem Rocha disse...

tu ainda me surpreende.

Caren Fonseca disse...

Não cresça,perde a graça,tenhas sempre sorrizin de criança e alma também